As redes sociais são determinantes na governança das cidades

Esta convicção surge como base da parceria que dá vida ao Projecto Interactive Cities que tem enquadramento no Programa URBACT na vertente LAP – Local Action Plan. São 10 pólos urbanos, de outros tantos países europeus, que apesar dos desafios, das escalas e dos estatutos muito diferenciados convergem numa vontade comum: utilizar e optimizar as redes sociais como ferramentas estratégicas na promoção do desenvolvimento sustentável ampliando a componente da cidadania e da participação a níveis nunca antes imaginados nos sistemas de governança local.

Carlos Ribeiro | Artigo para a Newletter URBACT Março – 2017

Dez personagens emergiram do futuro. Surgiram de Paris, Ghent, Genova, Palermo, Tartu, Debrecen, Varna, Múrcia, Alba Iulia e Lisboa. Algumas, com nomes quase misteriosos, só foram totalmente conhecidas na Transilvânia, na Roménia, por ocasião do primeiro encontro entre parceiros. Foi o caso da Maria, residente num bairro social de Marvila que com 16 anos de idade e aluna do 10º ano foi envolvida num concurso sobre tecnologias de comunicação móvel que a levou a projectar uma nova abordagem às formas de interacção entre os residentes do bairro e as estruturas de planeamento do município.

Dar asas à imaginação

Maria foi apenas uma das criações das equipas de projecto que concretizaram o pedido formulado pelos peritos URBACT para que as cidades envolvidas imaginassem os impactos das ações do Plano Local através do relato uma ficção que reflectisse as mudanças desejadas na fase do planeamento. O mote foi dado e as narrativas marcadas pela criatividade, ultrapassaram todas as expectativas. Uma coisa é certa o futuro interactivo já foi visitado por 10 cidades desejosas de aproximar os cidadãos de formas mais participativas de tomada de decisão e de gestão dos assuntos de interesse comum

Uma mudança de paradigma

O tema central do projecto e da actividade da parceria surge apesar de tudo como muito amplo. Trata-se de tecnologia, de comunicação de planeamento e de muitas outras áreas que convergem no campo da participação e até da democracia. Desenvolver cidades Interactivas implica antes de mais construir um sistema tecnológico, no campo da comunicação, que favoreça uma produção de conteúdos baseada principalmente nos próprios utilizadores. O Used Generated Contents constitui um foco primordial da construção de espaços multicanal que devem procurar a horizontalidade e fugir das relações top-down tradicionais.

Segmentar as abordagens

Atendendo à amplitude temática mencionada os parceiros do projecto optaram por focar em três domínios fundamentais as suas actuações em matéria de pesquisa e de planeamento:

  • o turismo e os desafios que resultam da necessidade de uma interacção forte com todos os residentes das áreas implicadas (bairros tradicionais, centros de cidade, zonas costeiras) de forma a garantir a participação das populações nas opções que vão sendo tomadas em matéria de infraestruturas e de modernização de equipamentos;
  • a promoção de negócios e as modalidades de comunicação que envolvem na gestão de conteúdos todos os intervenientes nos processos de interacção. O caso mais emblemático deste domínio é o do comércio retalhista local com as novas dinâmicas de Pop Up Store, de comercialização electrónica e de relação cúmplice com o consumidor. Nestas abordagens a comunicação baseada nas redes Sociais torna-se determinante para o sucesso de uma estratégia que assenta na proximidade. Neste caso de proximidade de interlocução e não exclusivamente de contacto directo e físico entre intervenientes.
  • A regeneração urbana, com uma ampliação do sentido das operações que passam a abarcar as dimensões económicas. sociais e ambientais e não apenas a urbanística. Nesta linha de ampliação e de integração das variáveis presentes nos territórios, também a utilização e sistemática mobilização dos meios de comunicação flexíveis como as Redes Sociais torna-se essencial para gerir o espaço público e as restantes vertentes urbanísticas como cenários de vida dinâmicos que obrigam à participação e á implicação dos mais directos interessados.

Encontros europeus

Depois das jornadas de Alba Iulia em Setembro de 2016 e do Meeting de Lisboa nos passados dias 8,9 e 10 de Fevereiro estão previstos novos encontros desta parceria que conta com a liderança da Cidade de Génova e com o apoio de vários peritos europeus que enquadram as actividades e asseguram uma ligação muito intensa entre todos os participantes. O próximo desafio é a deslocação a Tartu, na Estónia, que servirá para as diversas equipas apresentarem os primeiros resultados do Plano de Acção Local desenhado na última jornada do encontro de Lisboa.

Tudo indica que no país báltico, em Junho, já não será suficiente puxar pela imaginação e relançar as personagens da ficção criada no exercício inicial. Desta vez terá que ser com personagens reais e com os actores dinâmicos da cidade que aceitam o desafio de uma utilização criativa das Redes Sociais para impulsionar novas formas de governança local.

Carlos Ribeiro

Caixa de Mitos – Portugal

Coordenador do projecto Interactive Cities na Rede DLBC Lisboa

27 de Fevereiro de 2017

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